Editorial

A cobertura da enchente escancara um problema da imprensa

Uma das dádivas trazidas pela comunicação em massa através dos meios digitais é termos notícias instantâneas sobre qualquer cantinho do mundo. Mas, ao mesmo tempo, esse olhar para o externo afeta diretamente o olhar para o hiperlocal. Um exemplo macro disso foi a cobertura da Covid-19, em que sabíamos detalhes do que acontecia na China em tempo real e, em diversos momentos, não fazíamos ideia do que acontecia em cidades menores da nossa própria região. Agora, com a enchente, o problema volta com tudo.

A importância de uma cobertura hiperlocal é diversa: conhecimento dos espaços, conhecimento de fontes, conhecimento de causa, memória ativa, acervos para serem consultados, enfim. Agora, por exemplo, vemos um raro momento de olhar nacional fixado na “nossa terra”. No entanto, há falhas básicas, que até geram desinformação, não por má vontade ou por algum motivo malévolo e obscuro, mas por puro desconhecimento de causa. Outro dia, por exemplo, um repórter de um canal de televisão nacional, que veio às pressas do Rio de Janeiro ou São Paulo, e fez uma reportagem inteira trocando as bolas entre Lagoa dos Patos e Canal São Gonçalo.

A cobertura hiperlocal é essencial para comunidades não serem esquecidas, ter seus problemas trazidos à luz e para não dar tranquilidade a gestores públicos. Parte significativa do papel da imprensa é apertar, incomodar e gerar desconforto em poderosos. Sem isso, abre-se caminho para trabalhos mal feitos e até para a corrupção. E, principalmente, esconde muitos problemas que só são revelados em reportagens e solucionados a partir dela.

A pluralidade de veículos de imprensa é fundamental para aumentar esse olhar. É perceptível a falta disso na Zona Sul. Há gritante falta de rádios ligadas 24 horas nessa cobertura da enchente, por exemplo. Um meio de acesso muito mais amplo e fácil que qualquer outro. Há falta de outros jornais concorrendo com o próprio Diário Popular, o único de circulação diária atualmente - embora esteja brevemente adaptado para portal por razões logísticas. Falta mais gente fazendo checagem de fatos, estando em locais que não conseguimos estar em alguns momentos e amplificando o olhar para problemas e potencialidades da Zona Sul.

O olhar nacional para cá logo vai passar, quando surgir uma outra pauta que chame atenção desses veículos. Mas os problemas da Zona Sul seguirão. E isso só a cobertura hiperlocal pode resolver. ​

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